Tem piratas no mar?!!!
Caros amigos
No sábado, dia 5 de Junho de 2010, eu e o meu primo fomos pescar de barco para o lado das Palmeirinhas.
Saímos do Clube ADM por volta das 8h30m, contornámos a ponta do Mussulo e tomámos o rumo 270º, aproximadamente. Ao virarmos à ponta do Mussulo vimos, como quase sempre, alguns pescadores em chatas pescando o cachucho. Mas neste dia, reparei que numa das chatas estavam quatro homens simplesmente parados a olhar para terra sem linhas na água. Achei muito estranho, mas não comentei.
Normalmente, às 3,8mil rotações demoramos cerca de 30 minutos desde a ponta do Mussulo até chegar ao nosso primeiro ponto de pesca, dependendo do mar. Foi o tempo que demorámos neste dia, pois o mar estava muito calmo. Chegados ao destino, lançada a ancora e passadas quase duas horas após alguns peixinhos (cachuchus e duas garoupas), eu vejo uma chata a aproximar-se vinda de Luanda, na rota habitual dos pescadores.
Passados alguns minutos, verifiquei que o nosso barco deve ter sido visto pelos homens da chata, pois eles corrigiram a direcção paralela ao nosso barco, e dirigiram-se para nós. Fiquei mais atento, tendo inclusive parado de pescar, notei que eles abrandaram a velocidade da chata e começaram a aproximar-se em zig-zag, como se estivessem a corricar. Isso deixou-me muito desconfiado, não por causa do corrico, mas porque mudaram de rumo só no momento em que nos viram no mar. Fui ao meu saco das coisas, retirei do plástico a minha arma, verifiquei como estava e coloquei-a ao meu lado. Tudo isto sem o meu primo se aperceber de nada.
Quando a chata, com mais ou menos 5 metros, se aproximou, verificámos que se chamava "TODA A VERDADE". Tinha um fundo azul pintado e as letras pareciam ser em branco. Trazia uma grande bandeira novinha, da República, na proa. Vinham quatro indivíduos pescadores (presumo) muito jovens, talvez entre os 18 e 24 anos. Três tinham gorros na cabeça (provavelmente por ser cacimbo e estar frio). Diminuíram a marcha quando se aproximaram e perguntaram se estava a dar peixe, ao que respondemos que não. Fizeram sinal de adeus e, poucos metros depois de terem passado por nós no sentido sul, fizeram inversão do barco e aproximaram-se cerca de 30cm. Desligaram o motor da chata e tentaram agarrar o nosso barco. Gritei que não o agarrasem e se afastassem. Dois deles que estavam perto de mim devem ter visto a arma (penso eu) e disseram logo: "ninguém agarra", "vamos embora".
Não foi necessário ameaçá-los com a arma. O barco deles ficou aí uns 20 metros afastado enquanto o homem do motor, muito nervoso, tentava pôr o motor a trabalhar, só o conseguindo à 4ª ou 5ª vez. Ainda perguntei o que queriam de nós e a resposta estúpida de um deles foi, "era só para vermos a corrente". Resposta sem nexo. Logo de seguida o motor pegou e foram-se embora para sul. Não vi nenhuma arma com os jovens.
Conclusão: Creio que o facto de eu e o meu primo termos cabelos e barba branca, estarmos na casa dos 60 anos e a mais de 3 milhas da costa, foi um convite a uma abordagem que não sabemos quais os objectivos e quais as consequências que poderia trazer. A rápida mudança de direcção do barco deles e o encosto ao nosso é injustificável e denuncia algo mais grave. Também achei estranho que naquela chata não houvesse um mais velho, sendo todos jovens.
Desconheço se já houve algum caso em Luanda de abordagem e assalto ou intimidação a troco de algo. Realmente, quem está na pesca não leva muitos valores mas, às vezes, os motivos de muitos crimes são injustificáveis.
Alerto as pessoas que andam no mar à pesca que tenham cuidado e andem sempre acompanhados de pelo menos 3 pessoas, se possível, armados.
A.V.